Tekoha: Lutas Indígenas pelo Território

Autores

Marcos Mondardo
Universidade Federal de Grande Dourados (UFGD)

Palavras-chave:

Indígena, Luta Indígena, Tekoha, Território Indígena

Sinopse

Na América Latina e particularmente no Brasil a disputa por terras, territórios e corpos indígenas estão na ordem do dia. Partimos da premissa que uma das questões fundamentais no país, hoje, diz respeito à defesa e demarcação das terras indígenas e sua relação com a violação dos direitos humanos, à crise ambiental, econômica, geopolítica, social, institucional e civilizacional.

Isso se justifica pelas iniciativas estatais etnocêntricas e a luta e resistência por território. No caso brasileiro, o governo bio/necropolítico atua para expansão e ampliação dos territórios corporativos do agronegócio ao realizar um ataque a toda forma livre de vida, anulando políticas públicas, dispositivos administrativos e legislativos de defesa para os povos indígenas. De um lado, o grande capital financeiro, extrativista e agroindustrial atua para a exploração e privatização das terras públicas, e de outro, o lobby evangélico e militar busca descaracterizar/desterritorializar/precarizar os povos indígenas com o intuito de converter as suas almas, seus espíritos, para alterar a relação imanente entre povo e terra, povo e território. A relação indissociável dos povos indígenas e sua autonomia. Esse ataque quer integrar o indígena à sociedade nacional. Mesmo assim, demonstraremos que existem estratégias em curso de luta pela terra e território, ações coletivas diretas em retomadas, ocupações, autodemarcações, alianças intensivas de corpos e política das ruas. Nessa luta, os povos indígenas são o símbolo máximo da resistência contra esse governo bio/necropolítico. Índios são devir-minoria.

É diante desse contexto que este livro analisa o uso e a disputa de concepções e práticas de territórios e territorialidades no Brasil contemporâneo. Não propõe um debate exaustivo. Serve como indicação na Geografia, e nas Ciências Sociais, para discutir como nossas ferramentas de análise podem se tornam armas de luta para combater injustiças sociais. Esta pesquisa consistiu em uma discussão teórica e conceitual de territórios e territorialidades indígenas no contexto latino-americano de luta pela terra. Em especial analisamos a luta dos Guarani e Kaiowa pelo reconhecimento e regularização fundiária dos tekoha. A luta pela terra no Mato Grosso do Sul é uma ação coletiva indígena de descolonização de territórios chamada de retomada. Para alcançar este objetivo o livro foi organizado em três capítulos.

O primeiro capítulo focaliza o pluriverso das lutas indígenas na disputa pelos conceitos de território e territorialidade no contexto latino-americano. Analisamos como esses conceitos e práticas são disputadas pelas populações tradicionais, corporações e o Estado. Ressaltamos para a necessidade do combate ao eurocentrismo e descolonização do poder, para a reconstrução do conceito de território na Geografia, não encaixado ao empírico, mas aberto à diferença, ao diálogo, sendo afetado pelas cosmologias, cosmovisões e cosmopolíticas dos povos indígenas.

O segundo capítulo procura trazer uma abordagem simétrica entre Geografia e Antropologia para discutir categorias nativas, concepções e práticas, desde à terra, o corpo, os mitos e imaginação. Ressaltamos a necessidade da abertura da ciência geográfica para os povos indígenas, de modo a afetar o seu conhecimento acumulado e operacionalizar conceitos na relação com as práticas nativas e outras formas de ser e estar no(s) mundo(s), abrindo horizontes para outras perspectivas de “cultura” e “natureza”.

O terceiro capítulo estabelece a relação entre cosmologias ameríndias, perspectivismo e transterritorialidades, para analisar a luta pela terra e território dos Guarani e Kaiowa no Mato Grosso do Sul. As retomadas, organizações de lideranças em rede e de territorialidades de trânsito potencializam-se ações diretas, corpos em aliança, política das ruas e espaços de resistência para pensar/construir as lutas indígenas como devir-minoria, devir-tekoha.

Desejamos que as ideias analisadas neste livro despertem e multipliquem novos debates, cada vez mais profundos e agudos, para fazer frente ao eurocentrismo, ao colonialismo, ao patriarcado, à destruição predatória da natureza pela globalização neoliberal, e contribua para a luta dos povos indígenas por terra, território e corpo.

Publicado

julho 10, 2019

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