Geografia e Relações Internacionais: Estudos sobre a América do Sul e o Brasil
Keywords:
América do Sul, Brasil, Geografia, Relações InternacionaisSynopsis
Os estudos em Geografia e Relações Internacionais possuem uma profunda história de diálogo ao longo do século XX e uma crescente convergência multidisciplinar de debates no complexo século XXI que se desenvolve em razão dos novos desafios e incertezas frente à dinâmica e fluida compressão espaço-temporal das relações socioeconômicas e do surgimento de novos temas, atores e campos de poder.
Tomando como referência a convergência dialógica dos campos de Geografia e Relações Internacionais, o objetivo desta obra, intitulada “Geografia e Relações Internacionais: Ensaios sobre a América do Sul e o Brasil”, é levantar uma reflexão sobre uma pluralidade de novos temas, atores e dinâmicas espaciais no Brasil e na América do Sul.
Derivado de discussões apresentadas no XII Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia na cidade de São Paulo em 2019, o presente livro contou com a colaboração de 11 pesquisadores oriundos de 7 diferentes instituições de ensino superior presentes nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte do país.
Estruturado com objetivos didáticos na busca de um diálogo convergente entre os campos científicos de Geografia e Relações Internacionais, o presente livro apresenta 8 capítulos com estudos de casos específicos, dos quais 3 ensaios abordam temáticas do complexo regional sul-americano e 5 deles focam assuntos brasileiros.
No primeiro capítulo, “Descaminhos da cooperação de segurança coletiva na América do Sul”, o pesquisador Edilson Adão Cândido da Silva discute a problemática da segurança internacional no complexo regional de segurança sul-americano por meio de uma análise focada no Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) e no Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS).
Por meio de uma evolutiva análise da arquitetura dos sistemas de segurança internacional na América do Sul, o capítulo mostra que o surgimento de novos órgãos de juri não necessariamente se materializa em aumento de facto da segurança regional, sendo os prognósticos futuros ainda mais incertos diante de mudanças políticas e falta de continuidades institucionais.
No segundo ensaio, “Hidrovia Paraguai-Paraná: dimensões geopolíticas e desafios para sua viabilidade”, o esforço para formular um regime de integração da infraestrutura em âmbito regional foi discutido por meio deste estudo de caso a fim de ilustrar a importância, complexidade e dificuldades para o avanço da integração logística dos sistemas hídricos dos rios Paraguai e Paraná, pertencentes à bacia do Prata.
A detida análise de Bianca de Oliveira Jesus e Tatiana de Souza Leite Garcia demonstra que o projeto da Hidrovia Paraguai-Paraná possui múltiplos problemas de ordem jurídica, ambiental e social desde os anos 1980 até os dias atuais, além de um baixo grau de compromisso político-financeiro por parte dos países membros no cumprimento dos acordos na temática e por conseguinte um não avanço de obras.
No terceiro texto, “A terra é novo ouro: geopolítica dos alimentos, conflitos por terras e principais atores envolvidos na América do Sul”, a pesquisa de Claudete de Castro Silva Vitte buscou analisar as dinâmicas de conflito, cooperação e os interesses dos principais agentes hegemônicos e não hegemônicos envolvidos com a produção de alimentos, com o uso e ocupação da terra.
Focando o período entre 2003 e 2016, o estudo demonstra uma situação não animadora na região à medida que o Estado tem pendido suas ações frente ao interesse de atores hegemônicos, sendo crescentes os conflitos entre os atores que concebem o agronegócio vis-à-vis a atores contra hegemônicos que representam os interesses ambientalistas, dos povos tradicionais e da agricultura campesina-familiar.
Na quarta seção do livro, “Geopolítica ambiental em questão: reflexões sobre os incêndios florestais amazônicos de 2019”, o objetivo central deste capítulo é analisar o “verdadeiro tabuleiro geopolítico em que a Floresta Amazônica está inserida” à luz do confronto entre diferentes racionalidades, a ambiental, que fundamenta-se em uma lógica de desenvolvimento sustentável, em contraposição à econômica, que busca um padrão de desenvolvimento ilimitado.
As análises promovidas pela pesquisa de Leandro Dias de Oliveira ilustraram como os incêndios florestais amazônicos de 2019 refletem a complexa problemática da Geopolítica Ambiental, na qual a defesa liberal do “desenvolvimento sustentável” ou do “desenvolvimento ilimitado-avassalador” comprometem os povos tradicionais, comunidades locais e o próprio meio ambiente.
No quinto capítulo, “Novos rumos da Petrobrás: entre a maldição dos recursos naturais e a ameaça à soberania energética nacional”, a pesquisadora Ananda Maria Garcia Veduvoto avalia a problemática geoeconômica e geopolítica da descoberta do pré-sal no Brasil diante de mudanças no cenário nacional e internacional.
O ensaio que examinou a aparente contradição que se estabelece entre crescimento econômico e soberania energética vis-à-vis à emergência da clássica doença holandesa, aprofundando a dependência brasileira em commodities, demonstrou que além destes dilemas relacionados à indústria do petróleo no Brasil, a Petrobras incorre em claros riscos frente à retomada do pendulo governamental de natureza neoliberal.
No sexto texto, “Acordos bilaterais referentes a núcleos urbanos na fronteira brasileira entre 2002 e 2017”, o objetivo da pesquisa, desenvolvida pelo professor André Vieira Freitas, foi avaliar se existe cooperação fronteiriça nas cidades pertencentes às faixas de fronteira do Brasil com Uruguai, Bolívia, Argentina e Paraguai.
Diante de um contexto de surgimento de acordos bilaterais e de uma percepção das fronteiras não como linhas de limite, mas como linhas de contato, o estudo demonstrou que existe uma materialidade assimétrica entre os acordos bilaterais, de modo que no caso com o Uruguai existe o maior grau de maturidade em termos de direitos de uso do território para residência, trabalho e estudo, bem como para serviços públicos, passando por uma posição intermediária com a Argentina, Paraguai, e Bolívia.
Na sétima seção da obra, “O aporte de investimentos externos diretos da República Popular da China no Brasil (2007-2017)”, o estudo analisa o papel chinês como grande player internacional de investimentos, bem como o volume dos investimentos chineses no Brasil e o número de projetos empresariais chineses no território nacional.
A pesquisa desenvolvida pelo pesquisador Thiago Jeremias Baptista demonstrou que o ano de 2010 se tornou um ponto de inflexão nas relações China-Brasil à medida que o país asiático a partir de então passou a intensificar os fluxos de investimentos externos diretos em setores importantes da economia brasileira, como, por exemplo, agronegócio e infraestrutura, assim como nos setores automobilístico, financeiro, siderúrgico, informática e energia.
No oitavo e último texto, “Relações comerciais e o avanço dos investimentos diretos chineses no Brasil”, Caio Marcelo Wolf aponta o estreitamento das relações entre China e Brasil em termos de comércio e investimento, demonstrando os efeitos em termos de especialização produtiva, desindustrialização e reprimarização da economia brasileira.
Com base nas análises apresentadas neste capítulo surge a advertência de maior prudência estratégica ao governo brasileiro no aumento das relações sino-brasileiras, uma vez que repercutem na construção de um novo imperialismo, via acumulação por espoliação, na qual a expropriação de riquezas do Brasil por parte do capital chinês promove crescimento ao Brasil, mas não um padrão de desenvolvimento, já que se amplia a dinâmica de desindustrialização e reprimarização da economia nacional.
Com base nos oito ensaios que compõem este livro, uma melhor apreensão de fenômenos e de dinâmicas especificas no Brasil e na América do Sul é ilustrada à luz de um funcional e convergente debate multidisciplinar comandado pelos campos de Geografia e Relações Internacionais, razão pela qual convidamos você leitor(a) a desbravar novos conhecimentos.