Geografia e Relações Internacionais: Estudos sobre a América do Sul e o Brasil

Autores

Elói Martins Senhoras
Universidade Federal de Roraima (UFRR)
Claudete de Castro Silva Vitte
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
André Santos da Rocha
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

Palavras-chave:

América do Sul, Brasil, Geografia, Relações Internacionais

Sinopse

Os estudos em Geografia e Relações Internacionais possuem uma profunda história de diálogo ao longo do século XX e uma crescente convergência multidisciplinar de debates no complexo século XXI que se desenvolve em razão dos novos desafios e incertezas frente à dinâmica e fluida compressão espaço-temporal das relações socioeconômicas e do surgimento de novos temas, atores e campos de poder.

Tomando como referência a convergência dialógica dos campos de Geografia e Relações Internacionais, o objetivo desta obra, intitulada “Geografia e Relações Internacionais: Ensaios sobre a América do Sul e o Brasil”, é levantar uma reflexão sobre uma pluralidade de novos temas, atores e dinâmicas espaciais no Brasil e na América do Sul.

Derivado de discussões apresentadas no XII Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia na cidade de São Paulo em 2019, o presente livro contou com a colaboração de 11 pesquisadores oriundos de 7 diferentes instituições de ensino superior presentes nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte do país.

Estruturado com objetivos didáticos na busca de um diálogo convergente entre os campos científicos de Geografia e Relações Internacionais, o presente livro apresenta 8 capítulos com estudos de casos específicos, dos quais 3 ensaios abordam temáticas do complexo regional sul-americano e 5 deles focam assuntos brasileiros.

No primeiro capítulo, “Descaminhos da cooperação de segurança coletiva na América do Sul”, o pesquisador Edilson Adão Cândido da Silva discute a problemática da segurança internacional no complexo regional de segurança sul-americano por meio de uma análise focada no Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) e no Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS).

Por meio de uma evolutiva análise da arquitetura dos sistemas de segurança internacional na América do Sul, o capítulo mostra que o surgimento de novos órgãos de juri não necessariamente se materializa em aumento de facto da segurança regional, sendo os prognósticos futuros ainda mais incertos diante de mudanças políticas e falta de continuidades institucionais.

No segundo ensaio, “Hidrovia Paraguai-Paraná: dimensões geopolíticas e desafios para sua viabilidade”, o esforço para formular um regime de integração da infraestrutura em âmbito regional foi discutido por meio deste estudo de caso a fim de ilustrar a importância, complexidade e dificuldades para o avanço da integração  logística dos sistemas hídricos dos rios Paraguai e Paraná, pertencentes à bacia do Prata.

A detida análise de Bianca de Oliveira Jesus e Tatiana de Souza Leite Garcia demonstra que o projeto da Hidrovia Paraguai-Paraná possui múltiplos problemas de ordem jurídica, ambiental e social desde os anos 1980 até os dias atuais, além de um baixo grau de compromisso político-financeiro por parte dos países membros no cumprimento dos acordos na temática e por conseguinte um não avanço de obras.

No terceiro texto, “A terra é novo ouro: geopolítica dos alimentos, conflitos por terras e principais atores envolvidos na América do Sul”, a pesquisa de Claudete de Castro Silva Vitte buscou analisar as dinâmicas de conflito, cooperação e os interesses dos principais agentes hegemônicos e não hegemônicos envolvidos com a produção de alimentos, com o uso e ocupação da terra.

Focando o período entre 2003 e 2016, o estudo demonstra uma situação não animadora na região à medida que o Estado tem pendido suas ações frente ao interesse de atores hegemônicos, sendo crescentes os conflitos entre os atores que concebem o agronegócio vis-à-vis a atores contra hegemônicos que representam os interesses ambientalistas, dos povos tradicionais e da agricultura campesina-familiar.

Na quarta seção do livro, “Geopolítica ambiental em questão: reflexões sobre os incêndios florestais amazônicos de 2019”, o objetivo central deste capítulo é analisar o “verdadeiro tabuleiro geopolítico em que a Floresta Amazônica está inserida” à luz do confronto entre diferentes racionalidades, a ambiental, que fundamenta-se em uma lógica de desenvolvimento sustentável, em contraposição à econômica, que busca um padrão de desenvolvimento ilimitado.

As análises promovidas pela pesquisa de Leandro Dias de Oliveira ilustraram como os incêndios florestais amazônicos de 2019 refletem a complexa problemática da Geopolítica Ambiental, na qual a defesa liberal do “desenvolvimento sustentável” ou do “desenvolvimento ilimitado-avassalador” comprometem os povos tradicionais, comunidades locais e o próprio meio ambiente.

No quinto capítulo, “Novos rumos da Petrobrás: entre a maldição dos recursos naturais e a ameaça à soberania energética nacional”, a pesquisadora Ananda Maria Garcia Veduvoto avalia a problemática geoeconômica e geopolítica da descoberta do pré-sal no Brasil diante de mudanças no cenário nacional e internacional.

O ensaio que examinou a aparente contradição que se estabelece entre crescimento econômico e soberania energética vis-à-vis à emergência da clássica doença holandesa, aprofundando a dependência brasileira em commodities, demonstrou que além destes dilemas relacionados à indústria do petróleo no Brasil, a Petrobras incorre em claros riscos frente à retomada do pendulo governamental de natureza neoliberal.

No sexto texto, “Acordos bilaterais referentes a núcleos urbanos na fronteira brasileira entre 2002 e 2017”, o objetivo da pesquisa, desenvolvida pelo professor André Vieira Freitas, foi avaliar se existe cooperação fronteiriça nas cidades pertencentes às faixas de fronteira do Brasil com Uruguai, Bolívia, Argentina e Paraguai.

Diante de um contexto de surgimento de acordos bilaterais e de uma percepção das fronteiras não como linhas de limite, mas como linhas de contato, o estudo demonstrou que existe uma materialidade assimétrica entre os acordos bilaterais, de modo que no caso com o Uruguai existe o maior grau de maturidade em termos de direitos de uso do território para residência, trabalho e estudo, bem como para serviços públicos, passando por uma posição intermediária com a Argentina, Paraguai, e Bolívia.

Na sétima seção da obra, “O aporte de investimentos externos diretos da República Popular da China no Brasil (2007-2017)”, o estudo analisa o papel chinês como grande player internacional de investimentos, bem como o volume dos investimentos chineses no Brasil e o número de projetos empresariais chineses no território nacional.

A pesquisa desenvolvida pelo pesquisador Thiago Jeremias Baptista demonstrou que o ano de 2010 se tornou um ponto de inflexão nas relações China-Brasil à medida que o país asiático a partir de então passou a intensificar os fluxos de investimentos externos diretos em setores importantes da economia brasileira, como, por exemplo, agronegócio e infraestrutura, assim como nos setores automobilístico, financeiro, siderúrgico, informática e energia. 

No oitavo e último texto, “Relações comerciais e o avanço dos investimentos diretos chineses no Brasil”, Caio Marcelo Wolf aponta o estreitamento das relações entre China e Brasil em termos de comércio e investimento, demonstrando os efeitos em termos de especialização produtiva, desindustrialização e reprimarização da economia brasileira.

Com base nas análises apresentadas neste capítulo surge a advertência de maior prudência estratégica ao governo brasileiro no aumento das relações sino-brasileiras, uma vez que repercutem na construção de um novo imperialismo, via acumulação por espoliação, na qual a expropriação de riquezas do Brasil por parte do capital chinês promove crescimento ao Brasil, mas não um padrão de desenvolvimento, já que se amplia a dinâmica de desindustrialização e reprimarização da economia nacional.

Com base nos oito ensaios que compõem este livro, uma melhor apreensão de fenômenos e de dinâmicas especificas no Brasil e na América do Sul é ilustrada à luz de um funcional e convergente debate multidisciplinar comandado pelos campos de Geografia e Relações Internacionais, razão pela qual convidamos você leitor(a) a desbravar novos conhecimentos.  

Publicado

dezembro 10, 2019

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